O jardim de Infância no centro das atenções

A investigação educacional tem vindo a demonstrar a centralidade dos anos da Infância para a definição da arquitectura do ser humano, ao nível cognitivo, afectivo e social. Tem também demonstrado que as condições de vida das crianças influenciam, de forma interactiva, o progresso dessa construção. Segundo Formosinho, o papel da escola de infância apresenta-se hoje com um interesse renovado, quer por ser um importante contexto experimental para a criança, quer por ser uma interface com outros contextos, nomeadamente o familiar.
Foi, sobretudo, nos anos 60, que se realizaram os primeiros estudos longitudinais, com grupos experimentais e grupos de controlo, visando um conhecimento científico dos efeitos da pré-escola.Os resultados desses estudos levam-nos a concluir, sem margem para dúvidas, que a qualidade da educação pré-escolar pode provocar mudanças permanentes nas vidas das crianças.Segundo Ramiro Marques, a educação pré-escolar fornece às crianças uma interacção cognitiva com o seu meio, que de outra forma não teriam possibilidade de experimentar.
Como resultado, as crianças entram no primeiro ciclo com uma maior habilidade cognitiva e, desde o começo, revelam-se mais interessadas nas aprendizagens, trabalham melhor na escola, o que se reflecte no aproveitamento académico e no sucesso educativo em geral. Isto significa que a participação em programas pré escolares de qualidade faz diminuir as reprovações e, por isso, a pré escola revela servir não apenas fins educacionais, mas também económicos, pois pode contribuir para reduzir os custos da educação. Com efeito, os estudiosos referem que as crianças que recebem educação pré-escolar precisam de menos apoio dos serviços de educação especial.
As populações que ficam verdadeiramente a ganhar com as medidas de implementação do ensino pré-escolar são comunidades mais desfavorecidas, as quais não têm recursos e meios para superar o deficit cultural que as acompanha. Em lares desestruturados, sem condições de habitabilidade, onde a violência e a negligência imperam, como ajudar as crianças a crescer com dignidade, assegurando-lhes os direitos mais elementares e dando-lhes a conhecer o mundo em que vivem? Só o sistema público escolar poderá dar essa resposta. E tem de o fazer o mais depressa possível para contrariar os índices baixos de frequência pré-escolar, no nosso país.
Não esqueçamos que um pré escola de qualidade é uma instituição que desenvolve o conhecimento e a inteligência, proporcionando a igualdade de oportunidades, para que todas as crianças possam chegar ao 1º ciclo com um manancial de experiências e saberes próximos dos pré requesitos exigidos à entrada da escola.
Lembra-nos Vitor da Fonseca que um dos primeiros direitos das crianças é o direito ao infantário e às escolas pré-primárias.As autoridades têm, pois, o dever de proporcionar as mesmas possibilidades de desenvolvimento e as mesmas oportunidades de triunfo e realização na vida, combatendo, em termos culturais, a persistência de privilégios à partida. Sem o ensino pré- primário preventivo, a nível nacional, a escola primária continuará a legitimar as diferenças sócio-económicas e sócio-culturais entre os seus alunos.
Refere ainda o mesmo autor que a expansão de infantários e de creches em tempo pleno, para todas as crianças, é outro dos problemas a integrar na estrutura educacional e sanitária, com prioridade do meio rural em relação ao urbano e dos meios desfavorecidos, através, se for caso disso, de apoios económicos efectivos.
O papel do Jardim de Infância e da educadora (or) é cada vez mais valorizado pela sociedade em geral. São exemplo disso as Orientações Curriculares. Este é um documento que demonstra que o estado reconhece a qualidade dos estabelecimentos para a infância, não só para apoiar pais que trabalhem, mas por constituir um elemento chave no desenvolvimento e aprendizagem inicial.
Os educadores de Infância são, neste contexto, profissionais de educação, de formação e de intervenção junto das crianças, famílias e respectivas comunidades, projectando-se a sua acção no desenvolvimento global e harmonioso da criança.Como é referido pelo Ministério da Educação, educador, criança e família são os pilares de uma construção comunitária que assenta no reconhecimento da diferença e no seu valor complementar.Nesta perspectiva, escola e família devem estar estreitamente ligadas, pois o comportamento e as condições de aprendizagem na escola são um reflexo do que se passa em casa, assim como a conduta da criança em família exprime, em grande parte, a sua situação escolar (Ministério do Emprego e Segurança Social).

Educadora: Ana Mafalda Das Dores Oliveira, in Jornal Açoriano Oriental, de 15 de Junho de 2003.

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